MISTER CANDÉ APOSTA NA SORTE E AFASTA O MÉRITO NA CONVOCATÓRIA
Estou confiante que nos próximos dias 24 e 27 de Março de 2023, nós guineenses e amigos da Guiné-Bissau, vamos todos torcer para que os Djurtus alcancem bons resultados na dupla jornada de qualificação para o Campeonato Africano das Nações, CAN Côte d’Ivoire 2023, contra a Nigéria.
Só lamento ver a seleção nacional do meu país a ser dirigida por um selecionador, cuja visão não ultrapassa as fronteiras da Guiné-Bissau, um treinador que infelizmente ficou estagnado no tempo e ver seus colegas a progredirem.
Como muitos guineenses amantes de futebol, já elogiei os trabalhos e feitos do nosso selecionador nacional de futebol Baciro Candé, mas já está na hora dele mesmo tomar a iniciativa de deixar os Djurtus, porque pelos vistos a sua visão não está a corresponder com os caminhos que a nossa seleção precisa trilhar.
É muito estranho ver um selecionador de um país que, com mérito dos seus futebolistas, claro seu mérito também como treinador, chegou a três fases finais consecutivas de um Campeonato Africano das Nações, mas que infelizmente parou no tempo. Um selecionador cujo critério de seleção dos jogadores não pressupõe mérito dos atletas baseado em prestações nos respetivos clubes.
Essa forma de convocatória sem considerar o desempenho dos jogadores em seus clubes não é de agora, mas sim desde que o Baciro Candé assumiu os Djurtus, mas a recorrência deste comportamento que só vai enfraquecer a nossa seleção, claro que não podemos ficar estáticos sem reagir contra esta falta de consideração dos nossos futebolistas que jogam na Guiné-Bissau, assim como no estrangeiro.
Os episódios mais recentes deixam-nos ainda mais inquietos. Como é que é possível deixar atletas com melhores desempenhos e minutos nos seus clubes e convocar aqueles que neste momento não mereciam estar na seleção nacional, pergunto!?
Era a altura do Mister Candé começar a corrigir as suas falhas. Também é ridículo ver os futebolistas como Alexandre Mendy, atualmente o terceiro melhor marcador da segunda liga francesa fora de suas opções para uma partida tão importante contra as Super Águias da Nigéria?
Baciro Candé deve lembrar-se que no futebol os desempenhos sempre estão a luz do público, não há nada oculta, tudo é visível e óbvio, fato que deixa o nosso selecionador sem argumentos convincentes para justificar algumas ausências de peso, como é o caso de Mendy, um atleta com cerca de 30 partidas, 11 golos marcados e 3 assistências, numa liga tão competitiva como é a Ligue 2 BKT da França.
Claro que não podemos o culpar por causa dos atletas que ainda recusaram representar os Djurtus, como é o caso particular do avançado da Udinese, Beto, mas uma coisa é certa, dificilmente jogadores como Beto, Álvaro Djaló, Toti Gomes, Celton Biai, Ouparine Djoco, Tiago Djaló, Batista Mendy, Houblang Mendes, Wilson Manafá e demais futebolistas, vão aceitar de ânimo leve um convite para representar o nosso país, porque acompanham e falam com as pessoas ligadas ao nosso futebol e têm colegas e amigos na seleção.
Já perdemos bons jogadores que podiam ser uma mais valia para os Djurtus, por exemplo, Nanpalys Mendy e Édouard Mendy, este último até foi convocado por Baciro Candé para jogos amistosos em Novembro de 2016 com os clubes portugueses – empate (1-1) com Estoril Praia e vitória de (0-1) sobre Belenenses, em Portugal, onde foi suplente não utilizado.
Questiono-me a mim mesmo, será que o selecionador nacional tentou chamar ou entrou em contato com Famana Quizera, que está a fazer uma excelente temporada na segunda liga portuguesa no Académico de Viseu? Claro que ele merecia estar nos 25 jogadores convocados, com todo respeito para os profissionais que foram chamados para defrontar a Nigéria nesta dupla jornada.
Só refiro-me a Famana, mas temos o outro exemplo, já na primeira liga portuguesa, como Leandro Sanca que chegou ao futebol luso oriundo da Serie A de Itália, onde somou alguns jogos e agora está a ser uma sensação na Liga Portugal Bwin. O que é que estes jogadores precisam provar mais ao Baciro Candé para serem convocados à seleção nacional?
Baciro Candé deve entender que nenhum jogador tem lugar cativo na seleção nacional de futebol de qualquer que seja país, mas sim às vagas devem ser bem preenchidas pelos futebolistas que apresentam os melhores desempenhos em seus clubes.
Por outro lado, admiro a atitude da atual estrutura que dirige os Djurtus e duvido se realmente os elementos que lá estão têm estado mesmo a acompanhar os nossos atletas em seus clubes, porque senão, os jogadores como Zé Turbo, Famana e Leandro Sanca estariam na lista divulgada na última sexta-feira para ajudar o país a alcançar um bom resultado contra a Nigéria, mas infelizmente, nos provaram mais uma vez da pouca visão que é característico da atual equipa técnica dos Djurtus.
As autoridades guineenses, principalmente os responsáveis pelo setor desportivo da Guiné-Bissau, precisam juntos, elaborar um projeto sério para desenvolver o desporto nacional em geral. E no desporto-rei criar uma estrutura desde base e valorizar os campeonatos domésticos, senão vamos continuar a correr sério risco de muitos atletas recusarem ainda ir representar as cores nacionais.
Todos estamos cientes de que temos talentos em todas as modalidades desportivas praticadas no país, mas sem projetos, pessoas competentes, sérias e comprometidas com a nação guineense, podemos esquecer dos lugares de destaque em África e no mundo. Por exemplo, no atletismo perdemos para Portugal a grande lançadora de disco e peso, Jéssica Intchudé, que até foi medalha de ouro pela Guiné-Bissau nos Jogos Islâmicos de Bacu.
Provavelmente que a Jéssica Intchudé sentiu-se mais valorizada por Portugal, por isso, decidiu mudar de cores, com razão, porque há vários exemplos negativos da forma como os responsáveis desportivos da Guiné-Bissau menosprezaram muitos atletas, como são os casos de Holder Ocante da Silva, Banjai, Bacar Baldé, Talata Embaló e Augusto Midana, este último um dos melhores de todos os tempos na modalidade de luta livre em todo o continente africano.
Baciro Candé provou-nos que é um treinador que acredita mais em esperar a sorte chegar até si do que trabalhar seriamente para atingir os objetivos na seleção nacional, se é que ele tem mesmo uma meta para alcançar nos Djurtus. Agora nós precisamos saber dos objetivos a alcançar que constam no último contrato de Candé com o Estado da Guiné-Bissau, porque, recentemente, quando contrataram verbalmente o técnico português Hélder Fontes para orientar a seleção nacional de Sub’20 tornaram público as metas que ele tinha que atingir para conseguir um contrato escrito com a Guiné-Bissau, mas o porquê de até hoje manterem em segredo dos murus, irãs e djambacusis o teor do contrato de Baciro candé.
A equipa técnica nacional é paga com o dinheiro dos guineenses, por isso, merecemos explicações e queremos ver uma luz, ou seja, a transparência na gestão dos recursos humanos que o país dispõe no futebol, por favor, chamem os que merecem ser chamados para nos representar condignamente.
Queremos mais competências no nosso futebol, senão, vamos ser apenas uma seleção a cumprir os calendários, sem rumo, sem metas, sem sonhos e estagnada, por isso, digo em voz alta, basta de brincadeira com o povo da Guiné-Bissau.
Te agradecemos por tudo que tens feito até aqui, Mister Candé, mas é a hora de sair pelo menos pela janela antes que seja tarde, porque agora o povo guineense vai te pedir a prestação de contas, são eles que te pagam o generoso salário e te dão todas as regalias que tens desde 2016, apesar de tantas necessidades que o país tem em todos os setores de desenvolvimento.
✍🏾 Sene CAMARÁ, editor-chefe no portal O Golo GB
Lisboa, 12 de Março de 2023
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