SALÁRIO MENSAL DO PRESIDENTE DA FFGB PAGA PRÉMIO DE CAMPEÃO NACIONAL
O desporto-rei da Guiné-Bissau tem vivido nos últimos tempos situações que deixam muito a desejar.
Claro que se continuarmos neste caminho nebuloso, não teremos um futebol semi-amador a curto, a médio e nem a longo prazo.
A recente aprovação pelos clubes e associações de um salário milionário para o presidente da Federação de Futebol da Guiné-Bissau, num país com clubes muito pobres, é sem dúvidas um enorme paradoxo.
O atual presidente da federação de futebol, Carlos Alberto Mendes Teixeira (Caíto), vai ganhar, (ou já recebe) um salário mensal de 5 Milhões de francos CFA, um valor aproximadamente igual ao prémio de um campeão nacional da primeira divisão (Guines-Liga), que receberá 6 Milhões de francos CFA, um paradoxo brutal.
O mais lamentável são os próprios dirigentes dos clubes a permitir tal “aberração” por serem eles mesmos a aprovar salário milionário ao líder da FFGB, e ao mesmo tempo aprovar prémio de migalhas ao campeão nacional.
Acham isso normal? A nós, pelo contrário. Nós que conhecemos muito bem a situação real dos clubes e dos atletas, das infraestruturas desportivas do país, nós que já percorremos tudo que é canto deste país, aliás, não é segredo a miséria em que está o nosso futebol, não podemos admitir essa “vergonha”.
Se na verdade queremos um futebol desenvolvido, semi-amador e quiçá profissional a longo prazo, é a hora certa de termos na Federação de Futebol da Guiné-Bissau, pessoas comprometidas com o nosso desporto-rei, ou seja, indivíduos que vão servir o futebol guineense e não pessoas que querem apenas servir-se do futebol, como está agora a acontecer na FFGB.
É utópico pensar ou fazer parecer que o futebol nacional está a se desenvolver. Atualmente, tem uma direção na federação de futebol que quer ter todos os clubes em suas mãos, como tem surgido várias denúncias neste sentido.
Vários dirigentes de clubes nacionais denunciaram que houve ou já aconteceu, interferências da federação de futebol em seus clubes. As mais recentes denúncias vieram do Grupo Desportivo e Recreativo de Quelelé e do Binar Futebol Clube.
Já num passado mais recente, são as denúncias de Sporting Clube de Bafatá, Bijagós Futebol Clube (Bubaque), FC Cumura e Sporting Clube de Guiné-Bissau, neste último clube histórico do país, houve até envolvência dos membros do gabinete de comunicação da Federação de Futebol da Guiné-Bissau a ligar jornalistas para irem cobrir o ato da assembleia-geral.
Claro que todos aplaudimos o esforço que está a ser feito em colaboração com a Federação Internacional de Futebol Associação – FIFA, do qual está a nascer dois estádios com tapete sintéticos em Bafatá (Estádio Rei Pelé) e Canchungo (Estádio Saco Vaz), mas lamentamos bastante os salários avultados que alguns membros da atual direção da FFGB recebem, tendo em conta a pobreza dos verdadeiros protagonistas do nosso futebol que são os clubes.
Lembro-vos que logo no início do mandato desta direcção da FFGB, o antigo presidente do Sporting Clube de Guiné-Bissau, Hussein Farhat, denunciou que a secretária-geral da Federação de Futebol da Guiné-Bissau recebe um salário mensal de 5 Milhões de francos CFA.
Além dos salários exorbitantes, nas últimas épocas futebolísticas a Federação de Futebol da Guiné-Bissau tem apresentado uns gastos enormes, mas que na realidade não se vê em termos de melhorias das condições dos clubes nacionais, talvez só reflete nos bolsos de alguns membros da FFGB e de alguns dirigentes dos clubes que recebem migalhas da federação de futebol, como valor dos seus votos.
É triste ver que ainda muitos dirigentes dos clubes da Guiné-Bissau não entendem o seu papel ou dos clubes em relação à federação, mas o mínimo que percebemos, são os clubes que escolhem as pessoas que querem na FFGB, não o contrário. São os clubes que têm as decisões em suas mãos e não a Federação de Futebol da Guiné-Bissau. É a hora de alguns dirigentes se acordarem e salvarem o desporto-rei do país.
Nos últimos dias, em Bissau, fala-se numa manobra da atual direção da federação de futebol em tentar barrar os eventuais candidatos à presidência da FFGB nas próximas eleições, mas esperamos que essa situação vai ficar apenas em rumores e não vai se traduzir numa realidade, senão, vamos abrir um precedente que pode se tornar num veneno que vai matar os seus próprios mentores.
A culpa deste cenário negro que está a afundar o nosso futebol a cada dia que passa, não é apenas dos atuais dianteiros da federação de futebol, mas também das pessoas que querem um dia dirigir a FFGB, porque ficam calados e só aparecem no aproximar das eleições.
Outro problema, mas que ninguém quer abordar tem a ver com uma presença forte da política partidária no futebol nacional, onde as pessoas chegam à presidência da Federação de Futebol da Guiné-Bissau com cunhos dos políticos. Tal como aconteceu no último congresso ordinário, que elegeu a atual direção liderada por Caíto Teixeira. Aliás, ele teve um grande apoio do então presidente Manuel Irénio Nascimento Lopes (Manelinho), que era na altura deputado da nação.
Creio que a FIFA não venha a dizer que não sabe do forte envolvimento da política partidária no nosso futebol, porque, Manelinho fez quase todo o seu mandato como deputado da nação, a FIFA sabe muito bem disso, agora onde está o cumprimento do regulamento da FIFA que diz que a política partidária não deve ser misturada com o futebol, um paradoxo.
Quase todos os membros da atual direção da Federação de Futebol da Guiné-Bissau estão num partido político guineense, alguns fazem a política partidária às escondidas, mas a Guiné-Bissau é pequena e não se esconde por muito tempo. Há altos dirigentes do nosso país que influenciam nas decisões e votações dos clubes, sobretudo nas eleições à presidência da FFGB, disso todos nós sabemos…
O que queremos é uma direção da FFGB competente, responsável e comprometida com o futebol da Guiné-Bissau e não um grupo de dirigentes que querem controlar todos os clubes de futebol e a imprensa nacional.
Uma coisa é certa, enquanto juramos servir o desporto, o futebol e a Guiné-Bissau através do jornalismo, ninguém nos vai calar e também o nosso valor e dignidade nunca estará à venda, NÃO TEM PREÇO. Estaremos sempre aqui para ser aquela voz crítica e muito necessária para o bem do desporto-rei guineense.
🕹️ Sete Rios, 23 de Novembro de 2023
Por: Sene Camará | Jornalista | Editor-chefe no O Golo GB
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