O QUE É SER TREINADOR?
© Guilherme Farinha, in Pensar o Jogo
No nosso grupo “Pensar o Jogo” regozijo-me de verificar que há uma atividade assídua de muitos treinadores, o que sem dúvida só vem enriquecer o nosso Grupo.
No Futebol, há dois elementos que são chave na modalidade : o Treinador e o Jogador.
Temos que partir do princípio que o Treinador é primeiramente um Homem, com as suas estruturas já consolidadas, ou seja, orgânica, locomotora e percetivo-cinética, consequentemente com a sua personalidade e carácter, formação cultural e moral já definidas.
O Treinador terá forçosamente de ser um Homem recheado de bons princípios e conseguir no dia-a-dia transmitir aos seus pupilos bons exemplos e, durante o ato de formar Atletas, de o fazer com cautela e com conhecimentos profundos da área em que está inserido – o ensino do Futebol.
Acontece, em muitos casos “vividos in loco”, que os jovens jogadores chegam a imitar os simples gestos do seu ídolo que passou a ser o Treinador.
Portanto não cabe na modalidade o empirismo, mas sim o trabalho científico, cada vez mais exigente e complexo.
Deparamos muitas vezes com a situação de sermos mais “Pais” do que os próprios Pais dos jovens Atletas e, em alguns casos, até de Atletas adultos, uma vez que, no atual ritmo de vida é comum o desfasamento de horários entre ambos. Com isto quero dizer que o Treinador passa um maior período de tempo com o jovem Jogador do que propriamente o Pai com o filho.
Isto leva-nos, Treinadores, a ter uma uma responsabilidade redobrada durante o contacto com os jogadores para os estimular, não só para a boa formação académica, como também para a melhor formação desportiva como praticante de Futebol.
Eis algumas qualidades que considero necessárias num Treinador : personalidade, caráter, persuasão, paciência, boa disposição, comando, ter boa execução, competência, criatividade, abnegação, honestidade, perseverança, auto domínio, paixão pelo jogo, bom senso, estabilidade emocional, comunicativo, capacidade de trabalho, confiança, capacidade organizativa, saber planificar, boa reflexão, entre outras.
Além destas qualidades, o Treinador terá que, ou deverá ter outras, essas mais difíceis, por não serem passíveis de estudo, trabalhadas ou aperfeiçoadas, porque terão de nascer com o Homem – Treinador na sua constituição cognitiva /volitiva /afetiva que são a capacidade de ter feeling e intuição.
Considero estas duas últimas qualidades de extrema importância, porque são elas que nos dão :
1) a possibilidade de conhecer em tempo desejado o Atleta com o qual trabalhamos;
2) de termos a capacidade de resolvermos muitos problemas (e bem) que se nos deparam de treino para treino, de momento para momento.
Não quero de maneira alguma levantar celeumas ou subestimar colegas de profissão, mas é a minha opinião formada através de anos de experiência em contacto com jovens e não só, praticantes de Futebol, que neste caso, me leva a ter esta filosofia de comportamento e de intervenção de que resultam benefícios, momentos de alegria e recompensa, não só para mim como também e, principalmente, para os atletas que comigo trabalharam.
Especificando um pouco mais, um Treinador de Futebol que trabalhe com praticantes de futebol não é aquele que teve essa possibilidade ou que queira, mas que na verdade possa e saiba, que domine por completo as 3 premissas fundamentais da vida, ou seja: Saber, Saber Fazer, Saber Estar.
Para terminar tenho a definição que me parece aceitável e correta ” o que é ser Treinador?” tanto para Atletas de Formação ou de Alta Competição.
Ser Treinador implica melhorar competências, modificar atitudes e comportamentos.
Pressupõe informação e formação contínua, ensinar o esperado e gerir o inesperado contido no dia-a-dia. Requer tomar como referência fundamental a atividade bem concreta para a qual pretendemos preparar aqueles a quem nos dirigimos, enquadrada por objetivos a atingir e a tarefa respetiva.
Ao treinador, cumpre ser frontal e honesto, rigoroso e ser um exemplo, de coerência e preocupação constante com os jogadores, no respeito pelas divergências, mas sem preconceitos pelas convergências.
Compete-lhe ; Explicar, se necessário Executar, Corrigir e Repetir.
O Treinador não deve ter necessidade de ser falado para significar, mas deve deixar a equipa e as pessoas que a compõem melhor do que estavam quando começaram a trabalhar com ele.
Treinador, líder, gestor, pedagogo, são uma e a mesma coisa? Debate muito em voga. Em minha opinião, a liderança é a gestão (o líder e o gestor) devem ser complementares. Nem uma, nem outra, devem ser dominantes sob pena de algo nas equipas deixar de funcionar como deve.
Requer uma gestão de sentimentos e emoções, das nossas e dos outros, quer no plano individual, como do grupo. Solicita que sejamos capazes de nos autoconhecer, centrarmo-nos no que somos (pontos fortes e fracos), assumirmos as nossas responsabilidades e demonstrarmos empenho e sentido de urgência.
Num tempo em que tanto se substitui a memória pela esperança, há que procurar sentimentos, ideias, dados e valores, formas e símbolos, que provavelmente, ainda não tenham sido experimentadas, designadamente no futebol de alta competição.
Há necessidade imperiosa de trocar, de contextualizar, de globalizar as nossas informações e os nossos saberes, de procurar enfim um conhecimento profundo e complexo. Relacionar a explicação e a compreensão, tendo em conta que não é fácil, é objetiva a subjetividade do futebol.
“Quem constrói a sua história com honestidade, competência, humildade e amor, torna-se inesquecível!”
Posso não ser o mais rico, porque para ser rico não basta ter dinheiro é preciso ter Alma!
E nesta caminhada pelo Mundo, mudei vidas, mentalidades, abri caminho a jogadores, treinadores, ensino e aprendo, dou e recebo!
E assim continuo na Guiné Bissau a servir o Futebol com a competência e a humildade que faz os homens grandes! Serei sempre rico porque caminho pelo mundo com Alma!